Trilha Da Historia
AS PERIGOSAS VIAGENS PARA CHEGAR A UMUARAMA!

Já estamos em contagem regressiva para a comemoração especial do aniversário de Umuarama, em 26 de junho de 2025! Digo especial porque a Capital da Amizade estará completando 70 anos de fundação!
E nesse clima de alegria e encanto por vivermos numa das mais importantes metrópoles do Paraná sentimo-nos motivados a recordar o início de sua história. Lá no meio do século passado! É uma forma de homenagear a maravilhosa terra onde vivemos em ritmo entusiasmado do trabalho e em harmonia na cidade onde os amigos vivem unidos!
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“Corre, minha gente, que tá chegando mais uma jardineira!”. Esse era o tradicional grito de guerra dos vendedores de passagens que estavam baseados naquele antigo ponto de ônibus. O ponto era no terreno vazio rodeado pelo pequeno casario da pequenina cidade de Umuarama, na atual Praça Arthur Thomas. Isso lá pelos idos de 1953, 1954, quando o vilarejo ainda estava em processo de abertura no meio da vertiginosa selva.
A cidade ainda nem havia sido oficialmente fundada. A colonizadora estava apenas começando o processo de limpeza do terreno da futura urbe, Umuarama. E também estava vendendo os primeiros lotes urbanos para quem aparecia com dinheiro. Além disso, era necessário estar disposto a enfrentar a grande epopeia da construção desta que é hoje a Capital da Amizade.
A CHEGADA EM UMUARAMA ERA BARULHENTA…
No meio daquele descampado, cortado por ruas formando quarteirões que ainda não estavam habitados, surgia ao longe aquele velho ônibus. Ele vinha caindo aos pedaços e fazendo barulho um terrível, de sua lataria meio solta. Também chegava soltando fumaça pelas ventas, proveniente de um escapamento que costumeiramente rugia estampidos nas subidas…
Era uma das tais “jardineiras”, como antigamente eram chamados os ônibus. Esse era o transporte usado à época para cortar os terríveis estradões que pareciam não ter fim neste Paranazão de meu Deus. O Estado ainda estava em estado bruto e sem os menores sinais de civilização.
As frágeis “jardineiras” vinham lotadas até o teto, com gente literalmente amontoada em cima daquele ferro velho. O motorista, às vezes, era o próprio dono do veículo, pois nos primeiros tempos as empresas de transporte coletivo, como a Viação Garcia, de Londrina, ainda não tinham linhas operando por aqui.
Além de dirigir, ele fazia as vezes de cobrador e de acomodar as “bagagens” (tinha de tudo, menos malas) no busão. A maioria dos volumes eram sacos de roupas e panelas, das famílias que vinham se aventurar nestas plagas.
Como as viagens até Umuarama eram muito sacrificadas, tanto para os passageiros como para os motoristas/donos das “jardineiras”, as passagens não eram muito baratas. Razão pela qual os viajantes economizavam durante algum tempo para poder sair de onde viviam e procurar pelos seus sonhos de riqueza em outros lugares… Quem não conseguia o dinheiro para vir de “jardineira”, tinha que apelar como último recurso para aqueles andrajosos “pau-de-araras”. Eram caminhões tipo gaiolas com cobertura de lonas.
No inverno, época em que predominavam as tempestades, as viagens se tornavam ainda mais torturantes pois os velhos ônibus atolavam nas estradas dominadas pela lama e enxurradas
… E TAMBÉM TUMULTUADA
Quando chegava uma “jardineira”, após o sinal de alerta dado pelo vendedor de passagens, era um corre-corre de gente que ficava à espera naquele lugar. Os mais apavorados eram aqueles que alugavam quartos de pensões, situadas nos arredores. Eles sabiam que aquela gente ainda não tinha casa para se acomodar. Então, pelo menos até se instalar em Umuarama, tinham que ficar nesses quartinhos, onde também serviam refeições.
Tinha ainda aqueles paus-mandados dos fazendeiros que ficavam recrutando gente para trabalhar na derrubada das matas ou no lavradio das terras. Geralmente ofereciam uma merreca como salário e davam apenas um teto para viver… Não faltavam ainda os moleques que ficavam vendendo doces caseiros e coxinhas de frango. Eles provocavam as crianças que chegavam esfomeadas depois de longas viagens de Londrina, Maringá e de outros lugares ainda mais distantes…
A chegada das “jardineiras” em Umuarama era uma muvuca tremenda. Mulheres e crianças, principalmente, ralhando umas com as outras, muitas delas chorando pelo cansaço, fome e sede. Os homens, carrancudos e também sem energia e forças sequer para andar depois de um percurso penoso. Afinal, haviam percorrido centenas de quilômetros de estradas de terra, cheias de buracos, poeira e barro. E promoviam um empurra-empurra para retirar as suas bagagens das “jardineiras”.
Essa pressa, invariavelmente, causava bate-bocas entre passageiros com o motorista. O condutor pedia calma diante daquela turba alvoroçada e louca para tomar o seu destino e poder encontrar um lugar sossegado para comer e dormir.
AVENTURA RUMO À FUTURA UMUARAMA
Viajar numas tranqueiras como aquelas, as “jardineiras”, era realmente uma aventura torturante. Vejam só: os seus bancos eram de madeira, o ônibus tinha aberturas dos lados, não tinha segurança alguma. Numa curva, por exemplo, alguém descuidado poderia cair pela estrada afora… Além disso, os veículos não tinham nenhuma suspensão para aliviar os solavancos da estrada.
As “jardineiras”, literalmente andavam corcoveando pelas estradas feitas burros chucros. Coitadas daquelas crianças que tiveram que passar por esse traumatizante calvário na sua infância. Infelizmente, para aquela gente tão pobre, não havia outro jeito…
O cúmulo da total perda do senso do medo era que muitos viajores que não chegavam a tempo para ocupar os bancos internos. Principalmente aqueles homens esculpidos pela dureza da vida, arriscavam morrer viajando até Umuarama, ou outro destino, no alto das “jardineiras”. Se acomodavam naqueles bagageiros, agarrados apenas àqueles ferros usados para amarrar as bagagens. Comiam poeira a viagem toda…
Atravessar as frágeis pontes de madeira sobre riachos e córregos era outra penosa missão para os motoristas antigos
ORIGEM DO TERMO “JARDINEIRA”
Quando eu era menino, nas conversas de meu pai, seu Bartolo Casciola, com seus antigos amigos naqueles cafés que existiam circundando o velho ponto de ônibus, eles contavam que aquelas porcarias de ônibus eram chamadas de “jardineiras”. Isso desde os tempos em que esses modelos chegaram ao Rio de Janeiro e São Paulo, no século 19.
Naquelas cidades grandes, esses ônibus abertos dos lados eram moda, principalmente para as elites paulistana e carioca. As senhoras que passeavam em tais carros naquelas capitais usavam belos chapéus. Por terem adornos com “flores”, dizia-se que eram “chapéus de jardineiras”.
Conforme esses carros foram ficando velhos e caíram em desuso por lá, os sucatões foram sendo vendidos para gente de outros Estados. Os novos donos passaram a usá-los nos transportes no ciclo da colonização de outras regiões, como é o caso de nosso Paraná.
As “jardineiras”, na verdade, não passavam de veículos improvisados. Não eram originalmente ônibus de transporte coletivo. As carrocerias, de madeira dura e rústica, ficavam em cima dos chassis de caminhões. Essa “engenharia” improvisada deixava apenas a cabine do caminhão de metal, ocupada pelo motorista.
A FUMAÇA MARCAVA O CAMINHO
Como eram caminhões, o combustível usado era o óleo diesel, que soltava uma nuvem de fumaça escura e fétida. Depois é que foram sendo adaptadas a outros caminhões mais “modernos”, estes movidos a gasolina, lá pelos anos 1960…
Os “bicudinhos” eram assim conhecidos porque a frente deles, de metal, tinha um formato parecido com os bicos de patos. Mas eram igualmente desconfortáveis e continuavam não oferecendo segurança alguma aos seus usuários. Mas, fazer o quê? A vida não é justa para todos…
ENFIM, OS ÔNIBUS CHEGARAM POR AQUI!
Anos depois é que começaram a chegar os ônibus ‘de verdade’, com poltronas. Eram rústicas, mas não eram de madeira; e tinham duas filas com um corredor no meio.
Francamente, hoje, com tantas leis de trânsito em voga, uma porcaria dessas nem sairia à rua sequer. E também nenhum mortal em sã consciência se aventuraria a viajar numa máquina maluca desse tipo. Nestes tempos modernos, ainda há quem reclame dos confortáveis ônibus dotados de ar condicionado, poltronas espaçosas e reclináveis. Bem como, som ambiente, bagageiros amplos, banheiros a bordo, etc… Chiam também de alguns buracos no asfalto.
Ah, se eles viajassem pelo menos uma vez numa “bomba” daquelas como eram as “jardineiras”. Certamente pediriam para sair antes mesmo que o ônibus tivesse percorrido o primeiro quilômetro da viagem. Se assim poderia se chamar um martírio como aquele de ter que enfrentar as estradas daquele passado tão difícil. Além de ser digno de ser esquecido por tanto sofrimento a que os desbravadores foram submetidos para chegar até este fim de mundo! (ITALO FÁBIO CASCIOLA).
Viagens perigosas: No antigo transporte coletivo valia tudo, até passageiro viajando no teto da “jardineira”, no meio da bagagem.
Nem mesmo os ricos fazendeiros de café, que tinham seus jeeps (veículos modernos e possantes para aquela época!), conseguiam vencer as lagoas de barro e também atolavam durante as viagens…
“Jardineira”: os ônibus improvisados do século passado tinham aberturas laterais. A imagem é da época do primeiro ponto de ônibus de Umuarama (hoje Praça Arthur Thomaz).
Atravessar as frágeis e estreitas pontes de madeira sobre riachos e córregos era outra penosa missão para os motoristas antigos.
No inverno, época em que predominavam as tempestades, as viagens se tornavam ainda mais torturantes pois os velhos ônibus atolavam nas estradas dominadas pela lama e enxurradas.
Uma foto nostálgica mostrando o sofrimento dos passageiros: quando o ônibus em que viajavam atolava eles tinham que descer e com barro nas canelas sofriam empurrando o veículo até sair do obstáculo e poder retornar à viagem…